Sobre O Conhecimento Humano

“Ninguém de nós sabe nada de belo e de bom, mas aquele homem acredita saber alguma
coisa sem sabê-la, enquanto eu, como não sei nada, estou certo de não saber.”

                                                                                       - Sócrates (?)

 

De todas as coisas que vi nessa experiência humana, uma das que mais me intrigou foi o conhecimento dessa espécie. É um cenário extremamente delicado, já que estamos divididos constantemente entre indivíduos que acham que sabem de tudo e aqueles que estudaram o suficiente para perceber que nada sabem.

Tudo o que sabemos passa pelo filtro de uma experiência humana singular, o que significa que cada conhecimento obtido está sujeito a interpretação, opinião e percepção de alguém que pouco pode observar sobre o mundo, considerando sua curta jornada de vida frente a imensidão da existência das coisas.

A busca autêntica pela verdade inevitavelmente leva em consideração ideias como a de que nesse caminho não existe certo e errado, bem e mal, e acima de tudo, que tal finalidade é inalcançável, uma vez que não existem verdades absolutas.

Por isso esse é o caminho de poucos, são algumas pessoas apenas no mundo que conseguem viver com o constante pensamento de que não sabem nada sobre o mundo que vivem e que sua busca é algo que nunca terá fim. A maioria contenta-se com a mediocridade presente nos seus conceitos pré-moldados do que é verdadeiro ou falso, abdicando ou mesmo nunca tomando conhecimento do caminho da sabedoria.

Assim, fica evidente que aquilo que temos como conhecimento é algo que exige uma avaliação cuidadosa, para evitar ao máximo equívocos na hora de decidir o que aceitaremos para nossas vidas como válido. O que chamamos de conhecimento por si mesmo já possuí diversas faces e outras tantas diversas opiniões sobre o que é considerado uma ideia alinhada com a verdade.

Conhecimento, no fim, nada mais é que a opinião compartilhada de diversos indivíduos. Por isso, é importante que uma pessoa não tome nada do que outros dizem como verdade absoluta para sua vida, mas sim façam uma análise tentando distinguir o que é válido para si naquela visão que lhe foi apresentada, posteriormente acrescentando ou alterando suas ideias pessoais sobre a realidade.

É extremamente confuso na minha cabeça o motivo das pessoas se apoiarem em partes separadas do conhecimento. Fala-se muito de tipos de conhecimento, temos conhecimento científico, filosófico, religioso, popular, e a cada um é atribuído certos valores, onde é comum que apenas o científico seja posto como factual ou alinhado com o que é real, isso na porção mais contemporânea da existência humana. Mas se é dessa forma, inevitavelmente o estudante dessas ideias é levado a valorizar apenas um em detrimento das muitas formas que o conhecimento se apresenta.

Por muito tempo, minha visão do que é verdadeiro esteve nesse sentido, cientificista. Naturalmente existia uma sensação de incompletude e diversos aspectos dessa experiência humana careciam de algo que justificasse as coisas que aconteciam a minha volta. Foi assim que fui levado a investigação das outras formas de saber, que no passado havia sido ensinado pelo sistema educacional a negligenciar.

Hoje, possuo outra abordagem sobre esse assunto, que me levou a mais profunda sensação de clareza mental, emocional e intelectual. Começando pela inexistência de qualquer forma de valoração de uma ideia, tudo é válido ou tudo possui sua parcela de verdade na mesma proporção que possui sua ignorância, o que se deve ao fato de que toda informação está sujeita a opinião daquele que a apresenta. Essa dualidade no pensamento, onde é considerado tudo o que sei como correto e errado simultaneamente, parece ser um bom passo para quem segue no caminho da verdade, do conhecimento assertivo, da sabedoria e da opinião válida. Esse princípio naturalmente impede que determinada ideia de um outro individuo seja arrogantemente colocada em uma posição de inferioridade em relação a sua própria e consequentemente o leva a ouvir o que o outro tem a dizer, pois, assim como sua opinião não é a verdade a do outro não é uma mentira por completo.

Seguindo nessa ideia, logo fui levado a percepção de que, diferente do que é comumente nos dias de hoje aceito, o conhecimento científico não é soberano, embora seja admirável seu grande esforço em descrever o mundo físico que percebemos com uma incrível quantidade de detalhes, não é capaz em hipótese alguma de explicar as coisas. Para que haja uma explicação de alguma forma é necessário que a opinião seja estruturada levando em consideração as outras formas de conhecimento e admitindo-as como sendo de igual relevância ao conhecimento científico.

Nenhuma ideia deve excluir ou invalidar outra. Me parece de extrema arrogância achar que alguém, eu ou você, seja capaz de dizer o que é certo ou errado e o que é bom ou ruim. Notei a partir dessa visão que as coisas começaram aos poucos a se complementar a medida que assimilava um pouco de cada face do saber para cada vez formar uma opinião mais alinhada com a verdade ao invés de pôr uma ideia por cima de outras, ao invés de pôr mera opinião de um ser limitado como verdadeira. É preciso estar além da mera condição de homem, além desse ser e embora a experiência seja tudo que se é possível saber, é preciso estar além dessa condição também. Uma experiência não é superior a outra, mas sempre um complemento, possa ser percebido ou não.

Minha perspectiva hoje engloba todas as formas do conhecimento que consigo absorver, tentando ao máximo distinguir entre informações alinhadas ou não com o que é verdade para a minha experiência pessoal, através da percepção de que as múltiplas formas de conhecimento apresentadas pela humanidade, quando colocadas nessa perspectiva ou nesse caminho, não se opõe em momento algum, mas sim se complementam, promovendo o desenvolvimento de uma opinião assertiva, um conhecimento pessoal coerente e uma conduta sábia. Tudo o que você for capaz de assimilar, de aprender, é uma peça no quebra-cabeça da verdade, da realidade.

O caminho da sabedoria é divino, não se apegue a sua experiência nesse mundo.