Sobre Um Universo Para Ser


Era uma vez o nada e nada era tudo o que havia. Certa vez, consciente e motivado pela vontade de ser, a primeira frequência surgiu e no nada então houve luz. Mas como toda ação, esse ato criativo não seria por si só puro brilho e como consequência da luz se formaram as primeiras sombras. Mas não era suficiente o entrelaçamento de duas formas tão abstratas, se mesclando num giro cósmico, luz e sombra não poderiam ser o todo. Mas era tudo o que até então havia, logo ficou clara a necessidade de novas formas serem esculpidas, a luz foi a matéria prima e a mente a ferramenta. Assim se formou a primeira forma de matéria, que não demorou para começar a interagir com seus semelhantes, desencadeando uma série de reações e desdobramentos. A princípio, se juntaram e formaram corpos extremamente massivos de onde emanava pura luz, mas ainda era tudo mais do mesmo, apenas luz em meio as sombras, o primeiro colapso era inevitável. Desse ponto, duas novas formas passaram a compor o cenário do todo, em sucessivas explosões dos corpos de luz, outras formas de matéria iam se formando, sendo atiradas em todas as direções e como contraponto, no todo se formaram brechas por onde a matéria poderia deixar de ser. Foi assim que se deu e do caos tudo nasceu. Mas tudo não poderia ser o todo se tudo até então era caos, jamais poderia ser com o caos a identidade. Foi assim que se fez necessário observar os detalhes, por dentro, as pequenas coisas, com o entendimento se fez a possibilidade da organização, o caos colapsou e as coisas passaram a ter ordem. Muito se passou no processo de organizar tudo e por isso logo começou a ficar sem sentido. Na busca por sentido de ser, no todo então começou a vida e ela florescia lindamente e por muito tempo foi bom de apreciá-la, mas essas vidas só podiam ser e o sentido ainda não pode ser conhecido. Mas a vida não pararia aí, se deu o colapso do ser, talvez o sentido estivesse não na criação em si, mas na percepção do que foi criado, formou-se a dúvida e pela primeira vez no todo surgiram formas dinâmicas capazes de interagir com a criação e através de seus olhos o todo podia ver a si. Mas ele via, observava e percebia, que na verdade de algo mais carecia, pois o que existia não o fazia ser, tudo o que ele havia feito era, mas nada podia o todo perceber. Criou e recriou, destruiu e construiu, muitas ideias colapsaram até que algo bom pelo todo pudesse ser criado. Então, veio sua ideia definitiva, colocar sua mente infinita criativa em algumas das suas formas dinâmicas, fez cuidadosamente a separação, os concedeu a liberdade de expressar sua percepção, esperando que sua mais nova criação, ao todo oferecesse apenas contemplação e assim surgiu nós, seres capazes de perceber o todo do qual fazem parte. Mas o todo já tinha sido muitos e nós não conseguimos lidar muito bem com esse poder, a consciência da finitude dessa experiência singular, vida e morte e a porção do todo que buscava ser, em nós se tornou uma obsessão, sentimos medo e foi assim que surgiu o eu. Com isso, nós criamos as mais diversas mentiras, surgiram deuses, civilizações, governos, religiões, guerras, perversão, depravação e sofrimento, a luz dentro de nós foi cercada pelas sombras, criamos tantas ilusões com o poder que esquecemos a verdade. O todo ficou furioso com isso e, cansado do colapso, começou um plano para consertar esse equivoco sem ter que destruir sua maior realização. Através de nós ele havia sentido tudo o que havia feito, sempre existiram aqueles dispostos a amar, aqueles dispostos a ouvir, a viver, a verdade, a ser uma expressão do criador e por isso o todo nos amou. Em um ato de amor, decidiu que era preciso ensinar a nós que o eu era uma ilusão e que somente existia o todo, para isso, enviou mensageiros entre nós em momentos oportunos do que chamamos de tempo, para expressar o amor incondicional dele por nós, seus ensinamentos seriam passados adiante e distorcidos, mas jamais esquecidos, através de milagres e prodígios fez o extraordinário existir para testemunharmos. E assim é o que é, até chegar o momento onde todos nós vamos lembrar a verdade e finalmente o todo apreciar, reconhecendo-o como deveria ter sido desde o princípio. E então, sentiu o todo que era bom, pode assim finalmente conhecer o sentido de ser e descansar.

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